segunda-feira, 1 de março de 2010

Entidades solicitam à FAO que não incentive o cultivo de transgênicos

Natasha Pitts *

O apoio a biotecnologias agrícolas e a sua utilização será o tema central da "Conferência Técnica Internacional sobre Biotecnologias agrícolas nos países em desenvolvimento", que acontecerá na próxima semana, entre os dias 1 e 4 de março, em Guadalajara, no México. O evento foi convocado pela Organização das Nações Unidas para a agricultura (FAO, por sua sigla em inglês) e está despertando o descontentamento de entidades nacionais e internacionais, sob o argumento de que a real intenção do evento é incentivar o cultivo de organismos geneticamente modificados (OGM).

Após a divulgação da Conferência e do claro posicionamento de apoio à indústria biotecnológica, cerca de 100 entidades enviaram uma carta aos diretores da FAO questionando o papel da organização ao convocar, junto ao governo mexicano, uma conferência de apoio à disseminação dos transgênicos logo após o México ter liberado a plantação experimental de milho transgênico.

Em comunicado oficial sobre o encontro, a FAO justifica o uso das biotecnologias agrícolas - nas quais os OGM estão incluídos - como uma saída à fome e à escassez de alimentos, sobretudo nos países em desenvolvimento, onde esta problemática é mais aguda. A utilização das biotecnologias também é colocada pela organização como uma solução às mudanças climáticas que estão afetando fortemente toda a Terra. Ainda no comunicado, a organização lamenta que o debate público sobre as biotecnologias tenha centrado as atenções apenas nos OGM e se descuidado de outras que "podem ser de grande relevância para a alimentação e a agricultura de países em desenvolvimento".

Em contrapartida a esta argumentação, as entidades afirmam na carta que uma pesquisa co-patrocinada pela FAO desmente e conclui justamente o contrário.

"A Avaliação Internacional do Conhecimento, Ciência e Tecnologia no Desenvolvimento Agrícola (IAASTD), (...) concluiu que os cultivos de transgênicos não significam uma contribuição substancial à solução dos problemas fundamentais que a agricultura enfrenta hoje em dia. Pelo contrário, a engenharia científica é uma tecnologia que gerará problemas, uma distração, custosa e arriscada que se distancia de soluções reais do problema da fome, da pobreza e dos desafios iminentes ante as mudanças climáticas".

A carta também chama o governo mexicano a proibir a plantação e importação de milho transgênico para proteger o centro de origem do grão e faz sugestões de medidas realmente eficazes para reduzir a fome e proteger o planeta."Um aumento no financiamento às soluções que brindam a agricultura sustentável e/ou agroecológica, que contribuem com a reparação dos ecossistemas degradados, com a adaptação e a mitigação dos efeitos das mudanças climáticas, é o caminho a seguir".

Com a finalidade de negar todas as justificativas da FAO, esclarecer a real intenção da organização de incentivar o uso de transgênicos mesmo sem antes questionar seus efeitos negativos e fortalecer medidas concretas para salvar o planeta das mudanças climáticas e da fome, as entidades do estado de Jalisco, no México, e demais associadas à campanha "Sin maíz no hay país" realizarão o "Fórum Alternativo e cultural. Transgênicos? Não, obrigado".

O evento acontecerá simultaneamente à Conferência sobre Biotecnologias e contará com especialistas que demonstrarão os efeitos negativos dos OGM. Entre os convidados está Miguel Altieri, especialista em agroecologia da Universidade da Califórnia, além de representantes do Peru e da África do Sul que apresentarão experiências sem sucesso de uso do milho transgênico em suas regiões. Também estarão presentes especialistas do país que falarão sobre os malefícios dos OGM.

* Jornalista da Adital

Fonte: www.adital.com.br

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